segunda-feira, 4 de agosto de 2008

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Procuro-te pelas ruas desertas desta vila plantada na terra do Alentejo, nascida de um solo que, curtido pelo sol de muitos séculos, esperou, sequiosa, por ti. Uma terra que esperou que as palavras saídas da tua pena a desenhassem para a imortalidade dos tempos feita escrita.

A tua vida foi um rasgo na modorra, um parêntesis na canícula dos sentidos que afectava todos à tua volta. A vida de um ser humano não cabe num círculo. Nem sequer no círculo de significância abarcado por uma palavra.

A morte do teu corpo sobreveio cedo. Ficou muito por conversar, e outro tanto por escrever. Discreta, a tua morte física. Perenes, as palavras que me deixaste. Houve depois disso um descerrar de uma lápide e um monumento à memória feito por gente que nunca te percebeu. Se calhar estás a rir-te num sítio qualquer deste desfecho imediato. Mas os desfechos mediatos e aqueles que nunca se verificaram sempre foram o teu terreno, essa estrada perigosa de ser percorrida.

As ruas estão vazias demais para me aguentar por aqui. Nem sequer a tua está bonita. Fazes cá muita falta, apesar de, enquanto cá estiveste, teres andado sempre a planar por outras paragens. Tenho saudades tuas e continuo a escrever-te. Espero encontrar-te por estes dias, à esquina de um muro caiado, escondido atrás de uma trepadeira, perdido de riso, enquanto eu te procuro sem te ver.

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