terça-feira, 23 de setembro de 2008

Deixar Trilho II

Andar colado às paredes, fazer-se leve e fininho, transparente e obediente. Eis alguns objectivos do comum dos indivíduos, daqueles que, no dizer de Rilke, vivem à superfície da vida. Enquanto existem senhores das suas vidas, outros há que dela apenas são superficiários.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Vou desistir de ti. Vou desistir desta instância de dor, desta guerra de tricheiras que nenhum de nós teve coragem para declarar ao outro. Vou desertar, sem te mostrar a bandeira branca da rendição, porque acho que (irás perceber depois) ganhei.
Vou bater em retirada e, descansa, não deixarei minas no campo de batalha nem nos corpos dos mortos que medeiam o espaço que temos vindo a cavar entre nós. Só não me peças para assinar nenhum armstício porque, meu caro, comigo as guerras não comportam tréguas nem, muito menos, capitulações. Não penses que me exibes como troféu de caça a todos quantos irás contar o que pensas saber de mim. Não sabes nada, porque ficaste sempre nesse terreno perigoso demais para se pisar que é a margem de mim.
Depois disto, não irei desperdiçar mais mísseis contigo. Não vais ser inimigo de guerra, vais ser coisa nenhuma.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

11/9


Há explosões e fumo a varrer o mundo. E, desta vez, não são as bombas que albergamos no nosso corpo a estilhaçar, é a força bruta da energia cinética movida a combustível a esmagar-se contra sítios indestrutíveis. Cai gente do céu, como balas de canhão cuspidas das nuvens de fumo. E tudo isto nos entra em casa e, por uns momentos, é no nosso bairro que está a acontecer e é a nossa civilização que é ameaçada. Destruição inacreditável de tão real, em directo, para todo o mundo perceber que o mundo não aguenta mais de cinquenta anos em paz.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Somos todos palimpsestos, feitos de camadas sobrepostas de mentiras. Cada um de nós guarda a sua própria cidadela, suspensa das alturas da nossa moralidade donde disparamos tiros furtivos sobre quem se aventura a andar pelo chão.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Deixar trilho

Era eu menina e moça e já a minha mãe me dizia, desesperada, que eu era como a cobra: por onde passava, deixava um trilho.

Anos volvidos sobre a minha (fugaz) meninice, e muitos vendavais deixados para trás, tenho para vos dizer que sou muito mais do que isso. Sou uma espécie de 007 de saias que, dos cenários críticos sai no momento anterior à deflagração da bomba. Para quem não percebeu, eu saio antes da explosão e, depois de mim, fica um vendaval de chamas que ardem enquanto alguém se der ao trabalho de lhes deitar gasolina (e de nas chamas se enredar, irremediavelmente).

Sou assim. Passei a vida kicking asses all around. Mas só quem me conhece sabe da minha capacidade de ser leal a quem o merece. Sou capaz de morrer por um punhado de gente. Em caso de dúvida, não concedo amizades nem intimismos. Quando não há merecimento, deixa de haver regras e declaro guerra a tudo e todos. Se tiver de comprar uma guerra alheia, faço-o, porque há alianças sustentadas em amizade contra as quais não se pode deixar fazer valer a filhadaputice.

Tenho ainda para vos dizer que sou recordista em vitórias, que até agora as tive de tal maneira que deixo os outros de rabo entre as pernas, a correr, acossados, pelo campo de batalha a fora. Talvez por isso alguns colegas de profissão digam que não é bom ter-me do outro lado. Tenho mazelas que me pulsam no corpo quando, à noite, o sono não chega. Mas estou pronta para mais.

Espero que o mundo nunca me brinde com a indiferença. Prefiro, infinitamente, o ódio, seja qual for o seu móbil. E a inveja, essa, nem vos digo o quanto gosto dela. É, sem dúvida, o meu pecado mortal favorito, quando praticado por terceiros relativamente à minha pessoa.

Quem não gostar, vá à merda.