quarta-feira, 30 de abril de 2008

Kaputt

Acabou-se. No chão, depojos pejam-me o caminho e há um cansaço que me prende os pés e que os faz arrastarem-se, pesadamente. Há um estertor de dor na minha cabeça, que se encarregou de voar para longe, submersa de coisas pensadas e lastimosa da exiguidade do tempo e da aspereza das condições.

Acordar para o dia que se levanta lá fora e levantar-me, eu mesma, do torpor da noite é um desalento de vida. Não consigo sequer ler os contos do Hoffmann, que saltam, noite após noite e alternadamente, para cada um dos lados da minha cama em desalinho. Raios partam isto tudo. Raios me partam, porque mereço isto tudo. Há um eco permanente em mim, que me preenche os pensares até às cinco da manhã, importunando-me com perguntas para as quais não tenho resposta. Não estou em crise existencial nem em negação. Estou só cansada, como se os anos se decuplicassem e, para lá do traste do espelho, já nem me consigo ver. Acho que envelheci anos, ou os sulcos que as olheiras me escavaram na cara são só restos da máscara de guerra.

Quero ibernar. Fechar os olhos e virar as lombadas de todos livros para a parede (o que costumo fazer com aqueles de que não gosto), até que me sinta vazia, leve e livre para continuar. Resta saber continuar o quê. E para esta pergunta também não tenho resposta. Raios partam o perguntar.

domingo, 27 de abril de 2008

terça-feira, 22 de abril de 2008

Prenda disfarçada

São poucos aqueles com quem troco livros ou impressões sobre estes. A leitura é um espaço de solidão, um parêntesis de silêncio que é o lugar onde me penso, em perspectiva. Há uns dias, numa conversa com uma grande amiga, referi ter comigo um livro que lhe pertencia e que prazos inadiáveis de afazeres bem mais mundanos do que a literatura tinham causado um adiamento na respectiva leitura. A minha amiga disse-me então que o livro me tinha sido oferecido e que até tinha sido uma prenda de anos com dedicatória incluída.

Não fora a amizade e a daí decorrente desnecessidade de disfarçar, ainda e quando o descuido pouco educado nos prega uma partida, e tudo teria corrido muito mal. Acabou com um coro de gargalhadas e a constatação, noite alta e já em casa, de que, efectivamente, este T. S. Eliot fantástico tinha uma dedicatória que me passou despercebida quase uma ano. Na primeira página.

Muito obrigada!

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Estou cansada, permitam-me a queixa. Não quero que me passem a mão pela cabeça, pesada de coisas pensadas, muitas por escrever. Pensadas de anos, de noites acordada, ou em sonhos em que a ciência que estudo teima em visitar-me. Hoje percebi que já há um caminho, que há uma circunferência quase perfeita, as duas extremidades a convergirem.

Esta viagem não tem sido fácil. Hoje de manhã senti-me mal e só à tarde é que percebi que era possível terminar a tempo.