quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

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Quem és tu, que te albergas neste corpo, que vives debaixo desta pele e assomas por detrás do meu olhar? Quem és tu, que me vais mantendo viva, que fazer o meu corpo ir reagindo a todas estas intempéries e que, mesmo no fim do dia em que, esgotada, só quero um sítio onde possa ter silêncio dentro da cabeça, me impeles para mais e mais, e o mais e mais é o lugar do desespero, onde me conduzes, minimizando aquilo que eu sei que é muito e que custa tanto e que me mata, dia a dia? Quem és tu, que me fazes viver assim, estar assim e ser este não sei quem, que me fazes ter medo deste corpo que me alberga e que não me pertence? Quem és tu que és tão insatisfeita, tão forte e tão dura comigo, tão pouco complacente nas minhas dúvidas, tão dura nas minhas tristezas, tão distante nos meus triunfos? Quem és tu que, dia a dia, me atiras ao chão, fazendo-me descer dos sítios onde me colocam, reduzindo-me a pó que varres para longe de mim, indiferente às minhas dores e insensível ao meu queixume? Quem és tu, tão fria, tão distante e tão indiferente, tão eu e tão longe de mim? És um ser que se alberga debaixo da minha pele e que toca a estranheza mais funda de mim, esse lugar onde eu sou realmente eu, que é teu e donde me fazes ser assim e ser assim é, afinal, ser tu.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

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O que vais fazer quando o brilho se esbater e as olheiras assomarem, finalmente, desveladas da máscara que pintas diariamente sobre o teu rosto? O que será de ti no dia em que acordares sozinha, numa cama revolta e vazia, onde deixaste de encontrar respostas no sono reparador, que se foi, deixando-te reduzida às cinzas das tuas culpas? Quem vais ser quando o espaço que ocupas se encher de outros e de outras e, de repente, perceberes que já não tens lugar cativo neste mundo de que não gostas, mas onde te habituaste a viver? O que vais fazer quando o riso se esquecer de te visitar e os dias passarem, sem teres vontade de correr em direcção a coisa nenhuma, quando só o vazio te restar, a contemplação do ter sido e a decepção do que poderia ter sido se sentarem na beira da tua cama? O que vais fazer quando a juventude se for, quando deixares de conseguir fazer isto tudo, quando as tuas pernas finalmente cederem a esse peso todo, a esses medos e a esses lutos que carregas às costas? O que vais fazer no dia em que te encontrares cara-a-cara contigo mesma e encetares um diálogo sem tréguas, de ti para ti, onde os teus argumentos serão balas que te trespassarão até que caias, inerte, no vazio absoluto?