quarta-feira, 30 de abril de 2008

Kaputt

Acabou-se. No chão, depojos pejam-me o caminho e há um cansaço que me prende os pés e que os faz arrastarem-se, pesadamente. Há um estertor de dor na minha cabeça, que se encarregou de voar para longe, submersa de coisas pensadas e lastimosa da exiguidade do tempo e da aspereza das condições.

Acordar para o dia que se levanta lá fora e levantar-me, eu mesma, do torpor da noite é um desalento de vida. Não consigo sequer ler os contos do Hoffmann, que saltam, noite após noite e alternadamente, para cada um dos lados da minha cama em desalinho. Raios partam isto tudo. Raios me partam, porque mereço isto tudo. Há um eco permanente em mim, que me preenche os pensares até às cinco da manhã, importunando-me com perguntas para as quais não tenho resposta. Não estou em crise existencial nem em negação. Estou só cansada, como se os anos se decuplicassem e, para lá do traste do espelho, já nem me consigo ver. Acho que envelheci anos, ou os sulcos que as olheiras me escavaram na cara são só restos da máscara de guerra.

Quero ibernar. Fechar os olhos e virar as lombadas de todos livros para a parede (o que costumo fazer com aqueles de que não gosto), até que me sinta vazia, leve e livre para continuar. Resta saber continuar o quê. E para esta pergunta também não tenho resposta. Raios partam o perguntar.

3 comentários:

Anónimo disse...

Tu mereces ser feliz. Mas cuidado, porque às vezes pareces buscar o sofrimento. Deixa que a simplicidade por vezes ocupe os teus dias (ah, porque ela é tão bela por vezes)

Adoro-te. Miss you. "Bêjos muntos"

Manuel Bruschy Martins disse...

Vire então as lombadas dos livros para a parede. Nãos os leia: seja cega para se esvaziar, tornar leve e libertar, de forma a que fique surda às perguntas que ecoam pela noite e a atormentam. Descanse. Recomponha-se. Depois recoloque a máscara de guerra e lute: vai ver que mesmo com ela posta terá um aspecto muito mais fresco.

Fique bem,
Manuel

sibila disse...

Querida Olinda,

A tese deixou estragos grandes nesta alma em desalinho. Mas está tudo bem...miss you too. Quando vens a Olissipo?

Caro Manuel,

De repente, os deveres renascem e, entre as cinzas do que ficou por fazer, é preciso continuar. É sempre assim.

Obrigada pela sua visita.

Fiquem bem