segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Preparação

Quando vamos a tribunal, estamos preparados para tudo o que possa acontecer e o que pode acontecer fica fixado num plano impossível de entender, sujeito apenas à revelação, que é o da convicção do juiz.

Estamos preparados para tudo. Nesses dias, em que o esmero com a aparência até é superior e a ansidedade atinge níveis comparados apenas com a sensação «véspera de oral na FDL», estamos preparados até para um tanque de guerra. Até ao dia em que, com mísseis comandados à distância na pasta que alberga códigos, dossiers, agendas e notas de última hora, damos de caras com alguém que, sabendo de coisas perigosas de quem nós fomos num tempo passado, nos atira com todos os nossos fracassos à cara. Para isto não há preparação que nos valha.

3 comentários:

Manuel Bruschy Martins disse...

Fossem todos os males do mundo as vésperas de orais na FDL (que já são suficiente más). Para essas procuro preparar-me, como se procura(va) preparar a Ana Rita (ou qualquer outro, com as suas "FDL's"). Aí sofre-se por antecipação. Quando os frassos se entrenham na nossa cara tão brutalmente que não resta senão chorá-los, repara-se o choque pelo sofrimento.

sibila disse...

Caro Manuel,

Existem muitas alturas na vida que penso no que passei na FDL e nas orais que fiz (28). Sofria que nem uma condenada, muitas vezes sem raz�o nenhuma, ou se calhar, as raz�es que eu ent�o tinha j� se encontram mais esbatidas ao olhar que hoje lhe dirijo. A vida profissional � dura, mata aos poucos, �s vezes os anos crescem-nos como se amanh� fosse j� o ano seguinte. Mas n�o h� nada como darmos de cara com quem quer fazer de Nosso Senhor e assim, ressuscitar mortos h� muito enterrados.

Fique bem e obrigada pela sempre agrad�vel visita.

Manuel Bruschy Martins disse...

Cara Ana Rita,

De tantos falsos Nossos Senhores que por aí andam, não há que fazer senão superá-los. Crendo no verdadeiro Nosso Senhor, se for caso disso, ou assumindo como verdade própria a inexistência de Senhores Nossos. Em todo o caso, o desenterrar dos mortos é uma profanação da memória e do hoje de cada um de nós. Essa pessoa não merecerá o seu respeito, ao que me parece. Mercerá, pois, a sua crítica. A Ana Rita merecerá o passar dos dias, a condução a um novo funeral do cadáver exumado e a satisfação da verdadeira vitória que é ser aquela que supera os fracassos passados, recusando-se a revivê-los.

Fique bem e obrigado pela sempre agradável escrita. A visita é um prazer que teimo em repetir.