quinta-feira, 14 de junho de 2007

A maldição de Macbeth

Chegar aos 26 sem perceber Shakespeare, em toda a sua perturbadora e sábia magnitude, era algo que, quando me iniciei nele, nunca pensei. Hoje, dou por mim a perceber (penso que, muitas vezes, tarde demais) que tudo, desde os mais discretos detalhes da sua obra, encerra uma grandiosidade intemporal e desarmante: é o que acontece com a maldição que se abate sobre Macbeth: a consciência do seu mal (direi eu, da sua culpa) priva-o do sono reparador e apaziguante que, todos os dias, deveria descer sobre si, levando-o ao limbo da morte, para daí o resgatar de novo em cada dia que amanhecesse. Como não é levado até ao torpor fingido da morte nocturna, para daí ressuscitar diariamente, a loucura apodera-se de Macbeth. Macbeth deixa de poder ceder à imitação quotidiana da morte, caindo na maior e na mais tenebrosa das mortes: a da loucura.

Macbeth não dormirá. Eu, que desisti de carregar culpas alheias e que me deixo abater sobre o peso das que para mim convoco, sofro deste mal. E agora sei mesmo que é um mal. Dos grandes.

2 comentários:

Anónimo disse...

Viste?

Eu vi... fantástico

É Shakspeare e Sófocles... matam-me de tragédia e beleza... os melhores de semore... jamais, jamais

sibila disse...

Minha Cara,

Nem vale a pena procurar noutros sítios o que, das alturas da tragédia grega e da pena se Shakespeare se solta e nos bate de chofre na alma. Depois de Sófocles e de Shakespeare só o Dostoyevsky é que veio (em jeito de glosa aos Trágicos) dizer qualquer coisa mais.

Lindo, lindo...de morrer.