Não há nada que nos aprisione mais do que as palavras. Quer sejam ditas e ouvidas por gente que não as percebeu e que, todavia, as atribui a nós na nossa ausência, como se houvesse um rasto da nossa existência nas coisas que dizemos, quer sejam escritas e se voltem contra nós em cada leitura feita por olhos alheios.
As palavras deveriam ser um exercício de liberdade, mas não são. São inimigas, logo que saídas da nossa boca ou da nossa pena e, depois de ditas ou escritas, já não são o pincel com recurso ao qual pintamos o mundo, para se tornarem alvo a abater, impiedosas traidoras.
No acto de dizer há uma traição às coisas que se querem dizer e a nós mesmos. As palavras são um simulcro da realidade e, ao mesmo tempo, um compromisso perante os outros que corre o risco de ser mal entendido e, não obstante, colar-se a nós como uma segunda pele que com que o mundo (geralmente cego e surdo, mas estranhamente atento às nossas palavras) nos cobre. Com opóbrio.
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