terça-feira, 24 de julho de 2007

Silly Season

Arrasto-me da cama, dia alto, onde desmaiei na madrugada que há pouco findou. Procuro, de olhos fechados, lançando uma mão fora do conforto da minha cama, o objecto que tem mitigado a minha incapacidade funcional (só na parte da visão) para ter uma vida normal e que, se eu tivesse nascido no século IV a.C., ter-me-ia impedido (por ser míope e sobretudo por ser mulher) de cumprir o meu desejo de ser discípula de Platão.

O chuveiro liberta-me do torpor nocturno, imitação da morte a que por pouco tempo me é dado sucumbir. Arranjo-me e bebo um gole de café acabado de fazer. Saio. Lá fora, a rua fervilha de gente e um calor abrasador irrompe de todos os poros da terra. Percebo, rapidamente, que o caminho para o emprego não vai ser empresa fácil, valha-me a sorte de não ter de apanhar com a humanidade encafuada em transportes públicos. Em vão, procuro na rua cheia de carros o camião que me passou por cima. Estou morta e só são nove da manhã.

Trabalho 12 horas por dia, às vezes mais. Chegado este tempo, a estante fica desprovida de novidades literárias, já que as insónias me atacam no verão com uma voracidade de velhice antecipada, prolongando as horas de vigília. Trabalho muitas vezes de madrugada, no silêncio da noite quente que se espraia lá fora.

Chego a Julho sempre assim. Não sei se é o meu corpo a inventar uma época de exames mental (a A. sabe do que falo) ou se é só (o só merece aspas, naturalmente) burnout.

Burnout. Aliado à idiotia que a que a vigília nocturna me condena durante o dia que se arrasta luminoso até às 21:30.

Silly season and burnout. Não façam misturas destas nas vossas casas...

4 comentários:

Anónimo disse...

Minha linda... essa época de exames virtual porque tu e a A. passam já era para ter passado há muito.

Será que, mesmo passado 20 anos da Faculdade, vocês irão continuar a sentir o mesmo?

sibila disse...

Minha querida,

Espero que esteja tudo bem contigo. Como já deu para perceber, a malta por aqui anda a arrastar os seus despojos pelos dias que teimam em demorar a passar até às férias.

Tenho muitas saudades tuas. Espero que o Algarve esteja bom. Estás a gstar do livro da Lídia Jorge? bêjos

Anónimo disse...

Passados 20, 30... Eu acho que, no fundo, aquilo até dava algum gozo. Muito trabalho, alguns nervos, mas de que serve a vida se não nos apercebermos de vez em quando o quão vivas estamos?
vistadalua

sibila disse...

..ou quão mortas, no caso...

beijinhos e bom trabalho!