Gata em telhado de zinco quente é, definitivamente, um dos filmes da minha vida. Beatnik até à medula (característica que era meio caminho andado para arrepiar de nojo a pele alva da Sibila), juntou dois titãs do cinema, num enredo cheio de amor cru, feroz, de vícios, de quedas em desgraça e, sobretudo, de uma mulher indomável que tem a desdita de se apaixonar por um falhado e (desdita ainda maior) de gostar mais dele do que ele dela.
Liz Taylor e Paul Newman fizeram-me perceber que o tédio das vidinhas da gentinha feliz não é material idóneo para se fazer uma boa história. O tédio das criancinhas birrentas e mimadas, as idas ao supermercado ao sábado e as rotinas pavlovianas do povo não são terreno propício ao amor cru e desbragado que só uns quantos previlegiados têm a sorte de encontrar e de se atrever a viver.
Vem isto a propósito de gatos, de temperatura, e do efeito desta num telhado de zinco sob as patas do bichano.
Tenho um primo amante de motos (e que, com tanto acidente e operação já está quase transformado num ciborg) que tem uma expressão deliciosa. Quando eu lhe digo: "Vai devagar", ele responde-me a rir: "Vou como um gato por cima das brasas". Já caiu mais de vinte vezes, esteve entre a vida e a morte outras tantas e não deixa de andar sobre duas rodas.
Há trinta anos que oiço esta frase e finalmente percebi a razão pela qual o filme me tocou tanto. É que eu sou uma gata em telhado de zinco quente, que vive em cima de brasas, intensamente.
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