sábado, 21 de maio de 2011
Era uma menina bem comportada que, à noite, sonhava com os mortos. Deitava-se e sabia que eles estavam sentados na beira da sua cama estreita e que o espaço que a separava deles não era aquele que vai da vida à morte, mas o do mero acto de fechar os olhos. Por isso, dormia com uma faca debaixo da almofada, não fosse ela precisa para, noite dentro, deferir golpes inócuos a quem se ria da vida, porque estava a coberto da intangibilidade da morte. Mas a menina acreditava que podia matar os mortos, tal era a sua pretensão. Um dia amanheceu decapitada na sua cama de menina, e ninguém suspeitou que os mortos tinham morto um vivo. Realmente, acreditar que há pessoas que se limitam a desistir de viver é mais fácil do que tentar compreender que os mortos caminham entre nós e são capazes das maiores atrocidades.
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2 comentários:
Se me permite o comentário, a história apesar do desfecho, parece-me ser a de uma menina competente e corajosa, que procura combater as desventuras, provavelmente sem pedir qualquer auxilío ou reclamar das dificuldades que o destino lhe reservou, o que mesmo quando comparado com o final descrito, não será despiciendo.
Cumprimentos, "Metamorfoses"
Pena é não conseguirmos destruir os nossos fantasmas.
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