Acordou cedo. Arranjou-se com o esmero do costume, tomou uma refeição frugal. Enquanto se dirigia para o escritório fez dez telefonemas inadiáveis e compôs a agenda que ficou desprovida de espaços em branco até ao fim da semana. Passou o dia em reuniões intermináveis, sem magia nem brilhantismo. Aos trinta, depois de muitos esforços e silêncios, descobriu que o Direito é uma aldrabice, um instrumento refinado de exercício do poder do mais forte. Percebeu que as origens humildes, escondidas por golpes da inteligência e beleza que possuía em doses perigosas, eram muito mais dignas do que aquele mundo de vampirismo polido.
Aos trinta, começou a não conseguir disfarçar os bocejos e a acordar com desconhecidos. Não sei em que dia foi, não me lembro. Lembro-me apenas de ouvir contar que a encontraram com os pulsos abertos (cortes longitudinais- até em matar-se soube ser inteligente) num mar de sangue, dentro da banheira de casa.
segunda-feira, 8 de outubro de 2007
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2 comentários:
E viveu feliz na eternidade, longe de qualquer aflição?
Cara Elaine,
Isso não sei. Talvez um dia lhe conte mais um bocadinho desta história que escrevi.
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