Hamlet vagueia, noite alta, pelo castelo de Elsinor. Noite da alma, aquela outra, que o submerge. Só o eco dos passos cambaleantes de loucura, que atroam pelos corredores de pedra. É Inverno e Ofélia já foi levada entre as ramagens dos salgueiros pela fúria das águas. Ofélia desceu à terra e as flores negam-se a furar a neve sobre a sepultura da mais pura das noivas, aquela que já não vai gerar infelizes.
A dormência que sente no corpo e a idiotia fingida, dias a fio, condenam Hamlet à exaustão, o que lhe traz a mesma pena de Macbeth. Hamlet não dorme. E enquanto a respiração pesada de Elsinor albergar sonos e prazeres infames, Hamlet não descansará. A aurora rompe nas lonjuras e o olhar turvado de exaustão permite ainda ao príncipe da Dinamarca vislumbrar um traço vermelho que corta o horizonte, como se de um presságio de sangue se tratasse. Hamlet percebe então que estão todos mortos e que o sangue subiu ao céu. Que o sangue lhe nasce nas mãos e que não há água bastante que o lave. Cambaleia, tomba sobre si mesmo e antes de a sua vista se turvar de sangue, vê Ofélia amortalhada, a acenar-lhe entre as ameias do castelo.
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