Chego cansada de mim, cansada dos outros, a transbordar de poesia. Por uns dias, posso ser outra, planar na outra esquina de mim mesma e por aí me deixar ficar. Lisboa fica longe e depressa esqueço o mundo absurdo que construí nos últimos anos à imagem e semelhança de uma deusa que venero sem amor.
Aqui encontro as minhas razões primitivas, as minhas dores lancinantes e o meu querer em estado bruto. Aqui me fundo com a natureza agreste, com as casas brancas e com a calçada que poetas e políticos de outros tempos pisaram. Aqui contemplo o rio que serpenteia no sopé das serras que do Algarve se desprendem, um rio tão velho que escavou esta natureza íngreme que cada ano me é mais difícil percorrer. Aqui vejo ramos de buganvílias a espraiarem-se nas paredes brancas, tão brancas, de uma limpeza que só no Alentejo se encontra. Aqui está uma terra indiferente aos alvores de um Abril que quase niguém já lembra. Uma terra pesada e lenta, onde se cultivam poetas.
Aqui descubro um tempo suspenso, que desde há séculos me espera, compassivo e lento. Um tempo que me esmaga, tão grande é a certeza da minha finitude. Aqui encontro poetas, uns mortos antes de eu os poder ler, outros que conheci e que se transformaram, entretanto, em epitáfios donde me contemplam com a ironia que só a certeza da sua insuperável imortalidade lhes permite. Mas a maior parte dos poetas desta terra morre analfabeta, acto de egoísmo inconsciente com que aos demais castigam. Aqui encontro o José Camacho Costa, não já a declamar Herberto Helder como na tarde em que o conheci, mas imortalizado no cine-teatro cujo palco pisei demasiadas vezes na outra face de mim. Lembro-me dos versos do Zé Pedro, da corrosão da cal que o levou cedo demais e nos privou de tudo o que não houve tempo para escrever, nesta terra onde o tempo por todos espera.
O Alentejo é poesia feita em palavras e em terra. A minha terra.
Aqui encontro as minhas razões primitivas, as minhas dores lancinantes e o meu querer em estado bruto. Aqui me fundo com a natureza agreste, com as casas brancas e com a calçada que poetas e políticos de outros tempos pisaram. Aqui contemplo o rio que serpenteia no sopé das serras que do Algarve se desprendem, um rio tão velho que escavou esta natureza íngreme que cada ano me é mais difícil percorrer. Aqui vejo ramos de buganvílias a espraiarem-se nas paredes brancas, tão brancas, de uma limpeza que só no Alentejo se encontra. Aqui está uma terra indiferente aos alvores de um Abril que quase niguém já lembra. Uma terra pesada e lenta, onde se cultivam poetas.
Aqui descubro um tempo suspenso, que desde há séculos me espera, compassivo e lento. Um tempo que me esmaga, tão grande é a certeza da minha finitude. Aqui encontro poetas, uns mortos antes de eu os poder ler, outros que conheci e que se transformaram, entretanto, em epitáfios donde me contemplam com a ironia que só a certeza da sua insuperável imortalidade lhes permite. Mas a maior parte dos poetas desta terra morre analfabeta, acto de egoísmo inconsciente com que aos demais castigam. Aqui encontro o José Camacho Costa, não já a declamar Herberto Helder como na tarde em que o conheci, mas imortalizado no cine-teatro cujo palco pisei demasiadas vezes na outra face de mim. Lembro-me dos versos do Zé Pedro, da corrosão da cal que o levou cedo demais e nos privou de tudo o que não houve tempo para escrever, nesta terra onde o tempo por todos espera.
O Alentejo é poesia feita em palavras e em terra. A minha terra.
2 comentários:
Repousaste. Deixaste a lei na gaveta por uns dias. Apanhaste sol, estiveste na fronteira com o mar. Respiraste ar não corrupto.
E voltaste a ser poeta outra vez. Talvez a culpa tenha sido destes dias. Mas as palavras que acabaste de escrever, não são palavras de advogada. São palavras de poeta.
Essencialmente, estive acompanhada por uma poetisa...
Gostei muito.
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