Faz vinte anos que percorro os seus versos que, ainda menina, descobri no meio de tantas dores e silêncios.
Desde há vinte anos, que o efeito em mim da sua escrita causa a mesma reacção. As lágrimas correm-me sem que haja mar suficientemente fundo e amplo que as albergue. O que querem, quando se lê isto:
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
Sophia de Mello Breyner Andresen
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2 comentários:
Realmente, esse poema...
Andas a escolher uns post que doem...
Pois é, anda a doer-me muita coisa ultimamente.
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